Foi lendo teus livros minha cara Virgínia Woolf, que descobrir a tua beleza interior. Apaixonei-me por ti, desejei ter vivido em tua época, ter nascido inglesa. Mas, a vida real e a cores toma outra dimensão e apenas podemos ser o que nos cabe.
Imagino você sentada numa poltrona confortável, cabelo apanhado e um cigarro acesso entre os dedos de sua mão direita, apetece-me também nesse momento fumar um cigarro. Acto que realizo apenas quando me encontro em profunda depressão.
Não sei qual o perfume que usavas, mas sinto tua fragrância a percorrer os corredores dessa biblioteca onde sento para me deliciar de prazer com tua escrita. Ouço o som da tua gargalhada, que de quando em quando soltas e ecoas como quem quer nos alertar do perigo que te cerca. Mas o perigo chegou primeiro, envolveu teu corpo sob o rio Ouse e te levou num tempo onde a loucura e a depressão não conseguiram superar todo o medo. O medo obscuro daquilo que não sabemos, daquilo que não imaginamos, fugimos em busca do tempo.
E aqui minha cara Virgínia, desmaio eu, refugiada em mim mesma, refugiada do desejo de amar, desejo louco que me faz esquecer que em verdade não somos mais que pequenos sinais, que deixamos no tempo a marca desse momento.
Foi te lendo e te revendo que descobri em mim o desejo de escrever, como se cada segundo me fosse necessário escrever e eu tivesse que fugir, ou me internar numa folha de papel em branco. Segundos que passam como flash. E você a desfilar sobre a mesa.
Foi te lendo que compreendi onde devo seguir e descobri os caminhos que rodeiam os labirintos da minha confusa vida e da minha loucura. Sou eu por ventura poeta desse tempo moderno, composto por máquinas, computadores e bombas atómicas? Aquele do tempo futuro que tu te referias? O que nos resta além do vestido florido e uma capa preta com pedrinhas no bolso? O nosso corpo frágil a ir, afundar, mergulhada na nossa dor e inteira solidão de um rio? Sou mais que isso Virgínia, queria que tu não tivesses chegado a este dia, em que só não conseguiu saída e nos deixou. Arrebentando os nós da loucura e indo-se. Ou terá sido está a tua saída? O que posso fazer pra te dizer, talvez espectro de um fantasma, que és tão hoje quanto outrora o foi, por demais importante em nossas vidas.
E assim te descubro nesse encontro que marquei consigo e o tempo. Mas o tempo, esse nosso inimigo, chegou tarde, não pude te salvar, haverá tempo para mim? Poderei me salvar? Era esse o teu discurso? Não consegui mergulhar no teu rio para te estender a mão, minha mão apenas consegue no fim de um membro curto – o braço – esticar até a estante mais próxima e apanhar os livros, perfume da eternidade, me trazendo nesse silêncio onde ouço o desfolhar das páginas viradas o teu pensamento traduzido em língua que posso ler e assim minha cara Virgínia descubro eu nesse teu canto suicida que és as Ondas e Mrs. Dalloway.
Lilia Trajano – Poeta / 2005
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
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