segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A morte tem cheiro?

Hoje me ocorreu a vontade de relatar mais uma vez sobre a morte. Desde que nascemos à morte fica a fazer parte de nossa vida. Contudo esperamos sempre que ela venha bem tarde, queremos e desejamos passar pela vida e fazermos tudo que gostaríamos de fazer, desde acordar tarde, comer o que for menos nutritivo possível, gorduroso e frito, e engordar se assim for, não nos preocuparmos com que o outro vai pensar de nossa aparência, e depois seguir nossos instintos.

Eloá, assim com eu e você, também queria o mesmo, queria viver!

Correr em busca da sua juventude, ir ‘ficando’ como dizem os jovens, com uns e com outros, ainda é cedo para se pensar que temos que nos ‘amarrar’ definitivamente em alguém.

Agora percebo com dor, porque Eloá, não queria ‘ficar’ mais com seu ex-namorado, talvez no seu íntimo ela tenha visto ou sentido o que ele era capaz de fazer e acabou por fazê-lo. Eloá deixa o corpo físico, mas seus órgãos espalhados por cidades afora, irá fazer com que ela permaneça viva, dentro de quem dele se beneficiar. Talvez, dessa maneira, ela consiga fazer com que os seus sonhos e ideais permaneçam a lutar pela vida.

A morte tem cheiro, penso que de uva estragada, daquelas que quando a gente abre a geladeira e o mal cheiro já todo espalhado e a gente fica sem saber ao certo de onde é que vem o cheiro. Vem da uva estragada, e a uva estragada ou podre, é o processo da morte, que começa por corroer todos os órgãos vivos, e depois lentamente, tudo vai morrendo. Mas aqui a morte durou mais de 100 horas, e, no entanto, foi num desfecho fulminante de um tiro, que ela se tornou real.

A morte tem cheiro sim, tem cheiro de algo que nos destrói por dentro quando vemos a violência crescer através das imagens da TV, feliz eu era no tempo em que não havia TV, porque minha família se reunia para contar histórias, algumas tristes, outras misteriosas, outras até engraçadas, mas hoje a TV e o jornalismo sensacionalista é que enchem a nossa casa, e ficamos estarrecidos porque o que vemos é real, não é o conto da carochinha.

É assim que a morte acaba sempre por ter um momento exclusivo da minha escrita, porque ela vem sempre acompanhada desse cheiro de uva estragada, talvez por isso eu não goste de comer uvas.

Lilia Trajano, após a confirmação da morte cerebral de Eloá

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

UMA FLOR CHAMADA VIRGÍNIA

Foi lendo teus livros minha cara Virgínia Woolf, que descobrir a tua beleza interior. Apaixonei-me por ti, desejei ter vivido em tua época, ter nascido inglesa. Mas, a vida real e a cores toma outra dimensão e apenas podemos ser o que nos cabe.

Imagino você sentada numa poltrona confortável, cabelo apanhado e um cigarro acesso entre os dedos de sua mão direita, apetece-me também nesse momento fumar um cigarro. Acto que realizo apenas quando me encontro em profunda depressão.

Não sei qual o perfume que usavas, mas sinto tua fragrância a percorrer os corredores dessa biblioteca onde sento para me deliciar de prazer com tua escrita. Ouço o som da tua gargalhada, que de quando em quando soltas e ecoas como quem quer nos alertar do perigo que te cerca. Mas o perigo chegou primeiro, envolveu teu corpo sob o rio Ouse e te levou num tempo onde a loucura e a depressão não conseguiram superar todo o medo. O medo obscuro daquilo que não sabemos, daquilo que não imaginamos, fugimos em busca do tempo.

E aqui minha cara Virgínia, desmaio eu, refugiada em mim mesma, refugiada do desejo de amar, desejo louco que me faz esquecer que em verdade não somos mais que pequenos sinais, que deixamos no tempo a marca desse momento.

Foi te lendo e te revendo que descobri em mim o desejo de escrever, como se cada segundo me fosse necessário escrever e eu tivesse que fugir, ou me internar numa folha de papel em branco. Segundos que passam como flash. E você a desfilar sobre a mesa.

Foi te lendo que compreendi onde devo seguir e descobri os caminhos que rodeiam os labirintos da minha confusa vida e da minha loucura. Sou eu por ventura poeta desse tempo moderno, composto por máquinas, computadores e bombas atómicas? Aquele do tempo futuro que tu te referias? O que nos resta além do vestido florido e uma capa preta com pedrinhas no bolso? O nosso corpo frágil a ir, afundar, mergulhada na nossa dor e inteira solidão de um rio? Sou mais que isso Virgínia, queria que tu não tivesses chegado a este dia, em que só não conseguiu saída e nos deixou. Arrebentando os nós da loucura e indo-se. Ou terá sido está a tua saída? O que posso fazer pra te dizer, talvez espectro de um fantasma, que és tão hoje quanto outrora o foi, por demais importante em nossas vidas.

E assim te descubro nesse encontro que marquei consigo e o tempo. Mas o tempo, esse nosso inimigo, chegou tarde, não pude te salvar, haverá tempo para mim? Poderei me salvar? Era esse o teu discurso? Não consegui mergulhar no teu rio para te estender a mão, minha mão apenas consegue no fim de um membro curto – o braço – esticar até a estante mais próxima e apanhar os livros, perfume da eternidade, me trazendo nesse silêncio onde ouço o desfolhar das páginas viradas o teu pensamento traduzido em língua que posso ler e assim minha cara Virgínia descubro eu nesse teu canto suicida que és as Ondas e Mrs. Dalloway.


Lilia Trajano – Poeta / 2005

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Carta ao amigo que há de vir

Caro amigo não sei a cor dos teus olhos
Nem o tamanho de teus cabelos
Não sei se pertence ao sexo feminino ou masculino
Mas sei que tenciono conhecê-lo
O dia está marcado em minha memória, será como uma luz que acende a tocha Olímpica
Não viras correndo e nem tão pouco terás obstáculos para saltar, apenas saberei que és tu
Quando cruzarmos juntos a mesma estrada
Estarei sentada porque os olhos já estarão cansados da esperança
Meus cabelos brancos e minha pele enrugada
Mas serei paciente e amável como os Monges do Tibet.
Beberei água enquanto espero
Para secar o calor e a emoção de enfim poder abraçá-lo
Mesmo que seja o meu último suspiro
Estarei com um coque no cabelo, porque já terei forças para penteá-lo
Trajarei cores alegres, coloridas e fortes
Para manter por fora de mima, a Vida!
Estarei aqui contemplando as estrelas, olhando o céu cinzento
Esperando mais uma vez um por do sol!
Sei que quando aqui é dia do outro lado do mundo é noite, pode deixar estarei atenta
para mudar a posição da cadeira,
assim como o Pequeno Príncipe, pois não sei se tenciona vir de dia ou de noite
Não importa, estarei aqui e não é preciso bater a porta,
pois aqui já não há trancas, nem trincos, nem tramelas
Há apenas a minha solidão, meus livros e a doce espera nessa pequena ilusão.

Lilia Trajano

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Momentos

O dia ainda anda nublado, um pouco frio, o Outono já querendo ser Inverno.
Meu coração não enche de alegria, ainda chora pela desorganização social.
Tento não ser tão racional, tento não ser só humana, ser um pouco animal, atrevida, mentida, amiga e amante.

Mas minha amada esta tão distante!

Tento contemplar a luz do sol, no seu brilho fraco quase inexistente, sigo, porque preciso do ar que respiro, preciso dizer que a vida é mais que tudo isso, essa incerteza que nos cerca e nos aniquila.

Tenho que partir de algum ponto para o infinito
Tenho que escrever e tentar fazer um verso mais bonito
Nada é novo, nada é o mesmo céu, nem o mesmo tormento
É a solidão no meu peito
Preciso do seu beijo.
Regar minhas flores plantadas no chão do meu coração

Preciso reagir, abrir a janela e ver os pássaros a entrar
Preciso do meu lugar para poder de novo voltar
Preciso do meu Rio de Janeiro, preciso do meu Brasil tropical
Onde as incertezas são certas porque sei onde começa as estradas

Preciso ir, eu não sou daqui, eu não sou da tua terra, eu não sou do teu planeta, eu não sou desse lugar…
Preciso encontrar o mar, preciso me banhar nas águas da mãe Oxum
Preciso me regar, me alimentar de todo o silêncio do ar.

Eu tenho que ir, me embalar de leve na rede dos Guaranis
Comer sua comida moída na folha da bananeira, preciso do seu verde da terra, sentir o cheiro da tua pele, preciso, preciso, preciso.

Eu vou, eu fico, tu vais, eu volto, tu vens, nós vamos, seguimos, partimos, sentimos, sonhamos, deixamos tudo ser o que é.

Lilia Trajano 17.10.2006 (Um texto antigo que trago de volta)

Um texto de Arnaldo Jabor

RELACIONAMENTOS (Arnaldo Jabor)

Sempre acho que namoro, casamento, romance, tem começo, meio e fim.
Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa:
- Ah,terminei o namoro...
- Nossa, estavam juntos há tanto tempo.....
- Cinco anos...que pena...acabou....
- É...não deu certo...
Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.
E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.
Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.
Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?
E não temos essa coisa completa.
Às vezes ela é fiel, mas é devagar na cama.
Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.
Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.
Às vezes ela é muito bonita, mas não é sensível.
Tudo junto, não vamos encontrar.
Perceba qual o aspecto mais importante para você e invista nele.
Pele é um bicho traiçoeiro.
Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.
E as vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...
Acho que o beijo é importante...e se o beijo bate...se joga... se não bate...mais um Martini, por favor...e vá dar uma volta.
Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra.
O outro tem o direito de não te querer.
Não brigue, não ligue, não dê pití.
Se a pessoa tá com dúvidas, problema dela, cabe a você esperar....ou não.
Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.
O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta.
Nada de drama.
Que graça tem alguém do seu lado sob pressão?
O legal é alguém que está com você, só por você. E vice-versa.
Não fique com alguém por pena. Ou por medo da solidão.
Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado.
E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.
Tem gente que pula de um romance para o outro.
Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?
Gostar dói.
Muitas vezes você vai sentir raiva, ciúmes, ódio, frustração.....
Faz parte. Você convive com outro ser, um outro mundo, um outro universo.
E nem sempre as coisas são como você gostaria que fosse....
A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.
Se alguém vier com este papo, corra, afinal você não é terapeuta.
Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.
Na vida e no amor, não temos garantias.
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.
Nem todo beijo é para romancear.
E nem todo sexo bom é para descartar... Ou se apaixonar... Ou se culpar...
Enfim...quem disse que ser adulto é fácil????

segunda-feira, 13 de outubro de 2008



Foi lançado em Salvador o livro de Receitas de Dona Canô feito por sua filha a escritora e poetisa Mabel Velloso.

Para o que gostam de apreciar um bom prato bem feito, é a oportunidade de fazer e inovar os amigos com esta culinária baiana. Lilia Trajano